Se já se sabia que o exercício físico induz alterações metabólicas no músculo esquelético, desconhecia-se se este stress metabólico ocorreria igualmente nos tecidos onde ocorre frequentemente metastização de células tumorais (fígado, nódulos linfáticos e pulmões).
Investigadores israelitas verificaram que o exercício físico induz igualmente alterações metabólicas nestes tecidos, as quais se caracterizam por uma maior captação de glucose, aumento da função glicolítica e da atividade mitocondrial. Esta reprogramação metabólica induzida pelo exercício físico não só reduziu o volume tumoral em modelos animais de melanoma, como inibiu a formação de metástases a nível hepático, ganglionar e pulmonar.
Complementarmente, estes investigadores verificaram num grupo de 2734 pessoas que aquelas que praticavam exercício físico regular tinham menor risco de desenvolver cancro, especialmente cancro em fases mais avançadas (com evidência de metastização). Comparativamente com pessoas inativas, aquelas que praticavam exercício físico de alta intensidade tinham 73% menos risco de desenvolver cancro metastático.
Qual a relevância destes resultados ?
O exercício físico, ao induzir uma maior atividade metabólica nos gânglios linfáticos, pulmões e fígado, reduz a disponibilidade de nutrientes para as células tumorais nestes tecidos e consequentemente a sua atividade metabólica, criando um microambiente adverso que confere proteção contra a metastização tumoral.
Este mecanismo pode explicar o papel terapêutico do exercício físico na prevenção da progressão tumoral, em particular a menor incidência de cancro metastático em praticantes de exercício de alta intensidade.
Pedro Machado
Fisioterapeuta e investigador
Fonte: Sheinboim, D., Parikh, S., Manich, P., Markus, I., Dahan, S., Parikh, R., ... & Levy, C. (2022). An exercise-induced metabolic shield in distant organs blocks cancer progression and metastatic dissemination. Cancer Research, 82(22), 4164-4178.