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27 Oct 2020

Outubro é quando a Mulher quiser

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Outubro é quando a Mulher quiser

No mês em que celebramos a luta contra o cancro da mama, partilho uma reflexão acerca da importância da Fisioterapia durante toda esta viagem que é o processo Oncológico para quem vive este quadro clínico. 

O papel da Fisioterapia começa no dia em que a utente recebe o diagnóstico. Esta abordagem precoce, na fase pré-operatória, possibilita uma preparação estruturada das etapas que se vão seguir. É realizada uma avaliação do estado físico, emocional e funcional da utente e são-lhe fornecidas orientações no sentido da correção postural, prevenção de complicações e otimização da recuperação através de conselhos sobre o modo como deverá agir durante todo o percurso que tem pela frente, motivando, desmistificando as consequências da cirurgia e restantes tratamentos, e alertando para os possíveis contratempos que poderão surgir.

Todas as fases pelas quais a utente passa são importantes e, em cada uma delas, o fisioterapeuta tem um papel crucial. Esse papel está relacionado com intervenções que promovem o bem-estar e a qualidade de vida da utente. Do ponto de vista técnico, o fisioterapeuta intervém ao nível das aderências e retrações cicatriciais dos tecidos, avaliação de formações de cordões linfáticos, do alívio da dor com recurso a técnicas de relaxamento e controlo respiratório, da prevenção e tratamento do linfedema - sequela comum neste quadro patológico. Incentivar ao exercício físico, encaminhando ou executando um plano de exercício que promova o alongamento, a elasticidade/flexibilidade e o aumento progressivo do grau de intensidade, carga e frequência. Incentivar à correção postural global. Motivar e incentivar o retorno às atividades da rotina diária – são importantes linhas de intervenção.

Na fase de tratamento ambulatório, que se prolonga durante os tratamentos de quimioterapia e radioterapia, a fisioterapia tem um papel fundamental. Quanto mais precocemente a utente inicia o plano terapêutico, maior será a obtenção de ganhos como:

  • Diminuição do tempo de recuperação;
  • Regresso mais rápido às suas atividades quotidianas - desportivas; ocupacionais e sociais;
  • Recuperação da amplitude normal dos movimentos do Membro Superior;
  • Aumento da massa muscular;
  • Correção da postura;
  • Melhoramento da coordenação motora;
  • Aumento da autoestima;
  • Prevenção de complicações pós-operatórias.

 

O acompanhamento na fase de ambulatório, pós-tratamentos, é longo e recomenda-se que se mantenha durante os anos seguintes, paralelamente ao follow-up médico da utente.

A fisioterapia na área oncológica representa um desafio enorme já que a medicina e a ciência estão em constante evolução. Por um lado há novas abordagens, quer a nível cirúrgico, quer a nível farmacológico, com técnicas menos invasivas, esteticamente mais bem conseguidas, com cirurgias mais conservadoras e com impacto significativo na qualidade de vida do doente, porém, com alguns efeitos colaterais tais como neuropatias, cansaço, alterações a nível musculoesquelético, dor ou inchaço – efeitos que beneficiam com a fisioterapia.

Em suma, o fisioterapeuta deve estar atualizado já que é seu dever compreender e avaliar sistematicamente o doente.

Ao longo da minha intervenção, neste tipo de casos, tenho experienciado que, ao acompanhar as pacientes ao longo de todo o processo, é possível estabelecer com elas uma relação privilegiada, que se reflete numa empatia e confiança que permitem partilhas muito especiais.

A proximidade e cumplicidade que se desenvolvem em contexto de gabinete levam a que as utentes partilhem muitos dos seus receios, obtendo, com frequência, respostas para algumas dúvidas, o que as tranquiliza. Com cada uma, tenho aprendido muito, repensando a minha maneira de encarar a vida. A sua caminhada longa e resiliente tem-me inspirado. Aprendi a valorizar a essência das coisas e a desvalorizar coisas supérfluas. Aprendi a relativizar os meus problemas e a ser mais disponível para os outros. Aprendi a ouvir, ou simplesmente a ler em cada olhar a ânsia de um gesto de confiança. Aprendi que é preciso acreditar em mim para ajudar o outro – acreditar é, afinal, a grande arma de combate. Hoje, com cada utente, disponho do tempo “agora” sem me preocupar com o “depois”, na certeza de que todo o “depois” é mais um ganho ao leme do barco da vida.

Cada utente, com a sua história, deixa uma marca na minha vida e sei que leva consigo a minha marca – o laço rosa da esperança a acreditar que a vida é para ganhar todos os dias. Afinal, outubro é sempre que uma mulher quiser.

 

Sara Lourenço

Fisioterapeuta

 

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