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Uma nova estratégia na luta contra o cancro

Um em cada dois homens e uma em cada três mulheres serão diagnosticados com cancro algures durante a sua vida. A boa notícia é que, com a deteção precoce e tratamentos mais avançados, a taxa de sobrevivência de muitos cancros está a aumentar. No entanto, tanto o cancro como os seus tratamentos podem ter um efeito devastador na vida das pessoas, causando sérios problemas de saúde que comprometem seu bem-estar físico e mental.

Historicamente, o conselho para pacientes com cancro era descansar e evitar atividade física. Sabe-se agora que esse conselho pode ser prejudicial e que todas as pessoas com cancro beneficiariam do exercício/atividade física. Pesquisas clínicas verificaram que o exercício é uma intervenção segura e eficaz para neutralizar muitos dos efeitos físicos e psicológicos adversos do cancro e do seu tratamento, nomeadamente a ajudar a tolerar os tratamentos agressivos, minimizar os declínios físicos (condição aeróbia, força muscular, capacidade funcional e perda de massa muscular), reduzir a sensação de fadiga relacionada com o cancro, aliviar o stress mental, ajuda algumas pessoas a controlar seus padrões de humor e sono e melhorar a qualidade de vida.

Pacientes que realizam atividade física regular apresentam menos efeitos secundários dos tratamentos e de menor gravidade, como também têm um menor risco de mortalidade por esta causa. Pesquisas epidemiológicas que se focaram predominantemente no cancro da mama, colon e próstata sugerem que ser fisicamente ativo proporciona um efeito protetor contra a recorrência do cancro e mortalidade específica por esta causa. Outros estudos epidemiológicos de longo prazo sobre as tendências desta patologia mostraram que aqueles que praticam exercício regularmente têm menor probabilidade de desenvolver 8 tipos de cancro, nomeadamente: cancro da mama, do cólon, do pulmão, do endométrio, da bexiga, adenocarcinoma do esófago, cancro renal, e cancro do estômago. As estimativas sugerem uma redução do risco até 25%.

Quando adequadamente prescrito e monitorizado, o exercício é seguro para pessoas com cancro e o risco de complicações é relativamente baixo. Apesar das limitações dos estudos atuais, a American Cancer Society (ACS) publicou diretrizes que recomendam que as pessoas com cancro evitem ser inativas e retornem às suas atividades diárias normais o mais rápido possível após o diagnóstico. A ACS recomenda pelo menos 150 minutos por semana de atividade física aeróbia (por exemplo caminhada ou andar de bicicleta), complementado com exercícios de fortalecimento muscular duas vezes por semana, adequado e adaptado a cada caso. Estes programas individualizados envolvem exercícios específicos, realizados em intensidades e volumes precisos, com base em um mecanismo de ação e dosagem necessários para neutralizar os efeitos negativos do cancro e mitigar os efeitos adversos do seu tratamento. São adaptados às capacidades do indivíduo para minimizar o risco de complicações e maximizar os seus benefícios, devendo ser efetuados por um fisioterapeuta com experiência em tratamento oncológico. No passado mês de maio (2018), a Sociedade Clínica de Oncologia da Austrália (Clinical Oncology Society of Australia) publicou no Medical Journal of Australia, o plano de incorporar/prescrever o exercício físico como terapia de suporte para pacientes submetidos a cirurgia, quimioterapia, radioterapia e tratamento hormonal, para ajudar a neutralizar os efeitos negativos do cancro e do seu tratamento. 

“Se os efeitos do exercício pudessem ser encapsulados num comprimido, ele seria prescrito para todos os pacientes com cancro em todo o mundo e visto como um grande avanço no seu tratamento. Se tivéssemos um comprimido chamado exercício, seria exigido por pacientes com cancro, prescrito por todos os especialistas em oncologia e subsidiados pelo governo” (Prue Cormie).

 

Jessica Margarido

Fisioterapeuta

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