Viver com uma doença reumática significa lidar com dor, limitações e incerteza. Muitas vezes, o impacto não é apenas físico, mas também emocional e social. A boa notícia é que existe algo que pode mudar profundamente a forma como cada pessoa enfrenta o dia a dia: educação em saúde e estratégias de autocuidado.
Na Physioclem acreditamos que cuidar é, acima de tudo, dar ferramentas às pessoas para cuidarem de si próprias. Por isso, a fisioterapia em reumatologia vai muito além das técnicas manuais e do exercício, passa por empoderar o utente, ajudando-o a ser protagonista da sua reabilitação.
Educar em saúde não é “dar aulas” sobre a doença. É um processo de comunicação próximo, onde o fisioterapeuta explica, em linguagem simples, o que está a acontecer no corpo, dá estratégias práticas para lidar com a dor, adaptar tarefas e manter atividade física, e ajuda a desfazer medos e mitos, substituindo a ansiedade por confiança. Um exemplo? Muitas pessoas com artrite reumatoide acreditam que “mexer vai estragar mais”. A evidência mostra precisamente o contrário: o movimento certo protege as articulações e reduz a dor.
Autocuidado não significa estar sozinho no processo
Pelo contrário: é saber usar no dia a dia aquilo que se aprende em consulta. Alguns exemplos validados pela investigação científica incluem exercício regular, adaptado à condição, para manter força e mobilidade; gestão da energia, equilibrando períodos de atividade e descanso; estratégias de alívio da dor, como calor, frio, relaxamento e técnicas de respiração; e ainda cuidados de estilo de vida saudável, como sono de qualidade, alimentação equilibrada e abandono do tabaco. Estudos europeus recentes mostram que programas de educação aliados ao autocuidado reduzem a dor, melhoram a função física e aumentam a sensação de controlo da doença. O impacto vai além do corpo: também diminui a ansiedade e melhora a qualidade de vida.
Um estudo realizado por Zangi et al. (2015), com recomendações da Liga Europeia Contra o Reumatismo, destacou que a educação é parte essencial do tratamento das doenças inflamatórias reumáticas. Mostrou-se que pacientes informados aderem melhor ao exercício, ao tratamento e sentem-se mais confiantes na gestão da sua condição. Outro ensaio clínico de Niedermann et al. (2011), em pessoas com artrite reumatoide, demonstrou que uma intervenção personalizada em proteção articular resultou em menos dor, mais autonomia e melhor funcionalidade no dia a dia.
Na prática, para quem vive com doenças reumáticas, algumas recomendações são fundamentais: perguntar e esclarecer sempre, porque nenhuma dúvida é “pequena demais”; incorporar movimento na rotina, com pequenas pausas para alongar ou caminhadas leves; ouvir o corpo, respeitando sinais de fadiga e alternando tarefas exigentes com momentos de descanso; criar hábitos de bem-estar, com sono regular, alimentação rica em nutrientes e técnicas de relaxamento; e, sempre que possível, participar em grupos de apoio, partilhando experiências com outras pessoas que vivem a mesma realidade.
A fisioterapia em reumatologia não trata apenas a articulação ou o músculo: trata a pessoa no seu todo. Ao investir em educação e autocuidado, damos ao utente mais do que alívio temporário, damos-lhe confiança, autonomia e esperança. Na Physioclem, acreditamos que cada consulta é também um momento de partilha e aprendizagem, onde o cuidado não é apenas técnico, mas humano. Porque cuidar do outro é estar presente, é dar ferramentas, é caminhar lado a lado.
Referências bibliográficas
- Zangi HA, Ndosi M, Adams J, et al. EULAR recommendations for patient education for people with inflammatory arthritis. Ann Rheum Dis. 2015;74(6):954–62.
- Niedermann K, Sidelnikov E, Möller B, et al. Effectiveness of individual resource-oriented joint protection education in people with rheumatoid arthritis. Arthritis Care Res. 2011;63(5):613–22.
- Dures E, Almeida C, Caesley J, Peterson A, Ambler N, Hewlett S. Patient education in rheumatology: challenges and opportunities. Musculoskeletal Care. 2016;14(2):69–76.
- Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional para as Doenças Reumáticas. Lisboa: DGS; 2012.